quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A Farda Azul


E os drones vem como a luz do sol
E eles tem luzes e câmeras
Que me enxergam no escuro da noite

E os amores e projetos flutuam
Voam e se explodem no ar
Ao fluxo das cotações da bitcoin

A Academia ainda parece me esperar
Fiz o que pude pelos cavalos
Acho que serão sacrificados

Canto uma moda de um tempo esquecido
Faço o que posso pelo que me sobrou
Só sei que não sou esse, tão pouco

Braços e mãos e os beijos e as lembranças
Cadê meu avião? Cadê minha rota de fuga?!
Todos os pontos vermelhos apontam para mim

Parece até meio besta
Quero fugir desse lugar
Pesam sobre mim a tradição e o "futuro"

Não quero ficar!

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Não me negue um desejo!
(Pelo menos um)
Não peço mais pra ser menino
Minhas barbas enroladas como entalhes
Minhas marcas e, por trás delas, minhas faces
Denunciam o que o tempo já me fez

Não há muito que ainda reste por fazer
Muitos caminhos soterrados, ou esquecidos
Muitas vontades legadas à plena nostalgia

Mas, eu fecho os olhos
Sinto o frio do alto das colinas
"Compra um casaco que faz frio na serra!"
Que falta toda aquela gordura faz agora...

Me apego aos entalhes
No canto escuros da caverna
Me perco em um ou dois momentos
Respiro fundo e faço meu desejo!

Volto ao coração da baleia
E dessa vez, faço uma fogueira menor
Poupo a madeira do pinho
A única madeira que sobrou...

(...)

Canta, em desespero,
O grilo da madrugada
Sabe que amanhece e ele morre

Se cruzar, então,
Cruza consigo o infinito
Rasga o tempo e se faz eterno

Deixa aos ovos o calor da manhã
Conhece da terra o apego materno

Grita a consciência que nele se gera
Sabe da luta pela existência e assim se faz sã

Delira com dias melhores e assim espera
Põe os olhos nas luzes do horizonte
Sente tremer-se e abaixa a fronte

Deixa aos ovos o calor da manhã...

(...)

Fica então, este último desejo
Que não sei se consigo proferir
Deixo no frio uma oferenda perdida
Peço a quem for que me deixe algum brilho na vida

E que me guarde do que ainda está por vir