sexta-feira, 4 de maio de 2018

Superlativo de Medíocre



Hoje sentei-me em frente ao Marco.
Senti o vento balançar a camisa,
Fechei um pouco os olhos...
Deixei que olhassem sem ter muito o que ver.

Essa semana que se foi,
Me foi também como muitas outras,
Penando pra acabar e pesando no curso de suas horas,
Sentia os segundos como a areia...
Passando pelas mãos frouxas,
Me varriam o corpo inteiro.

Ainda não quero voltar pra casa!
Caminho mais um pouco, até chegar no Cais.
Lá ainda é cedo, as pessoas se amontoam,
Fazem filas como o gado esperando o transporte.
Meu caminho é na maior delas,
A fila do ônibus que me leva até em casa,
E passa por tantos cantos...
Cruza por fora, a cidade,
E me leva pro buraco de onde vim.

Já sinto saudades do Recife.
Já me vejo chegar em casa com desgosto.
Me vejo chegando, passando direto, indo pro quarto.
Cansado, insatisfeito, insuficiente.

(...)

Agnóstico por parte de mãe,
Niilista por parte de pai.

Sou ridículo entre os homens
E estes, já o são assim por natureza
Considerados mais brutos, destemperados
(Talvez até mais efêmeros)
Vistos, de longe, como seres ridículos
E eu, entre eles, cintilo minha ridiculez
Como bom recifense, (criado em Jaboatão),
Declaro de peito aberto meus superlativos e megalomanias

Ridiculíssimo, é o primeiro deles.
Visto o meu grau de insensatez,
Insensatíssimo, seria o próximo?

(...)

Sei lá!

(Pausa para um poema)
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Ser cadeira

Que não me mexo
Que não respiro
Que não mais vivo
Mas, que ainda existo

Isso é sabido!

Mesmo assim,
Como sou,
Quando sou...
Porque sou?
(Para que sou?)

Sou pelo meu uso
Sou porque sou útil
Sou pra ser usada

Mesmo quando não o sou,
Sou pela privação
Desse uso, continuo sendo

Sou como sou em qualquer espaço?
Sou o que sou e não escapo ao Tempo

Tempo que flui sob meus pés
E ainda corrói minha madeira

Apodreço, me desfaço
Me perco no Tempo

Sem tempo,
Sem mim,
Sou Tempo?

No tempo em que eu era árvore...
Havia um caminho pela beira do rio
Onde os meninos corriam
Onde amarraram suas redes
Redes que depois levaram corpos
Que o rio deixou por entre as pedras

Mas, agora,
Sem querer me apressar nesses delírios
Novamente me requisitam ao trabalho
Sempre inerte e colocada nesse morro,
Vislumbro algo que não sei explicar
Quando o artista se assenta sobre mim
E vem pintar a paisagem

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Absortíssimo,
Destraidíssimo,
Desinteressadíssimo,
(E desinteressantíssimo)

Me sinto comumente medíocre
Medíocre ao extremo do comum
Comum entre os homens medíocres
Medíocre entre os homens comuns

(Como bom recifense...)
Me vejo o mais medíocre entre os medíocres
E me pergunto como ainda me surpreendo

Tudo morníssimo nesse mundo ridículo
E o meu protagonismo se encontra em minha mediocridade
Em nada ser e nada fazer, numa história onde nada acontece

Reservo ao meu leito esse último superlativo
Este que ainda não consegui formular
Pois, qual seria o superlativo de medíocre?

Nesse espaço vazio
Acho que deixo um poema
Deixo esse canto insone
Ainda aqui a perguntar

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